Não faz muito tempo, escrevi um artigo sobre a necessidade de resiliência e adaptabilidade na sobrevivência das empresas. Como estamos vendo, nunca se sabe quando uma grande mudança irá ocorrer, menos ainda quais grandes crises virão com ela.
A capacidade de se adaptar rapidamente é um dos grandes pilares do sucesso organizacional e de mercado. Não é à toa que palavras como “Lean” e “Ágil” tornaram-se jargões desejados, multiplicando a quantidade de ofertas de cursos e consultorias sobre as metodologias. Contudo, já assumindo a postura detestável de ‘eu avisei’, aplicar um framework sem transformar o mindset de colaboradores e lideranças não salva empresas de momentos como o atual.
Para garantir o entendimento, por mindset quero dizer um “estado de pensamento”, a tendência com que formulamos nosso raciocínio e nossas respostas e ações. O resumo de tudo é uma frase conhecida: “culture eats strategy for breakfast”.
Não existe inovação sem cultura
Embora “cultura” tenha se somado ao bingo de posicionamento das grandes consultorias — junto com design thinking, ágil e transformação digital — ainda é comum despriorizar iniciativas focadas neste aspecto para a distribuição orçamentária.
Não são poucas as conversas com executivos em que ouço algo parecido com “inovação não é nossa prioridade, somos um negócio operacional”, e me parece que este tipo de pensamento se agravou com a crise atual. Preocupadas com queda de receita e diminuição do fluxo de consumidores em pontos de venda, ou ainda com a ausência de mão-de-obra logística e representantes que dependem de presença física para executar seu trabalho, muitas empresas gastam seus esforços para discutir cortes orçamentários.
Estamos começando a entender o problema com essa abordagem agora. Ameaças e crises são menos previsíveis do que gostamos de acreditar e, justamente por isso, o melhor momento para investir em inovação é quando não se tem nenhum problema.
“Basically you should think of investing in innovation like you invest in health insurance — you don’t buy a policy when you are sick, but when you are healthy, “ (Dan Toma).
Acredito que a postura refratária não é sem motivos. Vem de um comportamento de redução de riscos e de experiências passadas com inovação que, ao gerar pouca percepção de valor, trouxeram um efeito “gato escaldado”. Isso acontece muitas vezes por desconhecimento do que é inovação e a confusão do conceito com “novidade”. Vale lembrar que inovação — por definição — traz resultados de negócios e não precisa ser disruptiva.
A descrença em inovação vem de confundi-la com modismos “disruptivos” e sem resultados
Mais do que produzir novos negócios (serviços ou produtos), é necessário estimular uma cultura de inovação. O que isto significa, como é diferente e por que é relevante?
Cultura de inovação pressupõe abertura para novas ideias. Isso significa, inclusive, abertura para descartar ideias anteriores quando elas demonstram pouco resultado. Também significa que a inteligência coletiva e a quantidade de testes supera a suposta qualidade de uma ideia matadora.
Tudo muito bonito em teoria, mas como isso vai me salvar de um crash na bolsa? Não vai. A inovação não impede que certos fatores externos ocorram e aí está a pegadinha. A cultura é o que permitirá sua organização a não colapsar neste desafio, se reerguer mais facilmente ou mesmo ganhar diferencial da concorrência, dependendo do seu grau de maturidade.
Um bom exemplo de agilidade e inovação na prática foi a companhia chinesa que, em apenas duas semanas, pivotou seu negócio, saindo do setor automotivo para se tornar o maior fabricante mundial de máscaras.
Temos uma oportunidade nesta crise, e não falo da “limonada” que vem sendo feita na compra massiva de álcool gel e medicamentos para revenda. O momento é um alerta para a necessidade de reflexão. Pense qual a empresa que você está levando para o futuro, antes que mais um futuro inesperado leve sua empresa.