Em novembro de 2023, o especialista Sagar Goel foi ao TED Talks para trazer uma perspectiva positiva sobre a IAG e o Reskilling. Ele começa sua história contando sobre uma conversa casual com um amigo.
O amigo perguntou: “Vou ser substituído pela IA? Não quero voltar para a escola para aprender novas habilidades, tenho 40 anos. E mesmo que eu faça isso, os empregadores não prefeririam contratar alguém com metade da minha idade?”
A preocupação é válida, afinal, segundo ele, um em cada três trabalhadores em todo o mundo verá seu emprego significativamente impactado pela tecnologia nesta década. E isso não se limita a caixas de banco, operários de fábrica e funcionários de armazéns, mas também a gerentes executivos e trabalhadores de escritório. Estamos falando de mais de um bilhão de pessoas impactadas. O que isso significa?
Requalificação e a Necessidade de Novas Habilidades
Bom, primeiro que as empresas não podem simplesmente contratar alguém para resolver esse problema: não há talentos suficientes em áreas em crescimento, como ciência de dados, cybersegurança ou energia limpa.
E mesmo que elas consigam contratar os melhores talentos de hoje, em cinco anos metade das habilidades deles se tornará obsoleta. Dois anos e meio, se trabalhar com tecnologia. Essa percepção recebe o nome de “meia-vida das habilidades”.
A solução é óbvia: requalificar milhões de pessoas a cada ano, capacitando-as a usar essas novas tecnologias a fim de migrarem para novas ocupações que vão surgir. É claro, mas não simples: o desafio é social e profundamente complexo, a ponto de fazer governos, empresas e indivíduos trabalharem juntos.
A única maneira de avançar é substituir o medo e o ceticismo por curiosidade e otimismo.
Case de Sucesso: Singapura e a Requalificação Digital
E se essa maneira parece impossível, Goel rebate trazendo os resultados da sua experiência de trabalho com o governo de Singapura em um de seus maiores programas de requalificação digital.
Singapura é um país pequeno, mal visível no mapa mundial e desprovido de grandes recursos naturais. Talvez por isso tenham percebido cedo que a única maneira de crescer como nação é fazendo seu povo crescer.
Desde então, abraçaram a requalificação com tanto entusiasmo que, se alguém visitar Singapura, provavelmente encontrará embaixadores de habilidades em shoppings, falando animadamente sobre o impacto da construção de habilidades para adultos por meio de quiosques interativos gamificados.
Iniciativas Globais de Requalificação
É incomum ver um país adotar uma abordagem tão positiva e proativa. Mas não foi surpresa que, em 2020, durante o recorde de desemprego, o governo entrou em contato com a empresa de Goel para perguntar se poderiam aceitar alguns trabalhadores desempregados como estagiários.
Resultado: logo estavam trabalhando juntos para lançar um programa de seis meses em larga escala chamado “Rise”, cujo objetivo era requalificar milhares de indivíduos de funções tradicionais em declínio para funções como cientista de dados, especialistas de produtos e em marketing digital.
Desafios e Soluções para a Requalificação
À medida que as inscrições para o programa aumentavam, também aumentava a ansiedade. Muitos candidatos estavam fora da educação formal há mais de 20 anos. Ao conversar com muitos dos alunos, ficou claro que essa transição não seria fácil para eles.
Desde a primeira semana, o foco não foi apenas em construir suas habilidades, mas também em construir sua mentalidade e confiança em sua capacidade de se requalificar e fazer uma mudança de carreira acontecer. Foi então que ensinaram habilidades relevantes, como a resolução de problemas por princípios fundamentais.
Resolução de Problemas e Habilidades Práticas
Essa resolução de problemas desafia suposições para identificar o verdadeiro problema a ser resolvido, examinando posteriormente a questão a partir de novas perspectivas, encerrando com uma percepção central de maneira concisa. Essa habilidade prepara os alunos para prosperar em situações desconhecidas, que certamente os encontrarão em seus novos domínios de trabalho.
Para ensinar as habilidades digitais ou tecnológicas, foi necessário tornar as coisas muito reais e práticas. Foi preciso, em outras palavras, encarar projetos reais. Executivos de empresas como Olam, Danone e Singapore Airlines foram chamados para sediar hackathons, e ficaram surpresos com a entrega realizada pelos alunos do Rise.
Impacto Positivo
Foi assim que pessoas que jamais seriam consideradas para empregos formais conseguiram se recolocar no mercado de trabalho. Enquanto Goel trabalhava para requalificar as pessoas por meio do Rise, o governo de Singapura criou um banco de dados nacional de empregos e incentivou a contratação de talentos requalificados.
Eles mudaram tão bem a narrativa do medo para a curiosidade que, só em 2021, mais de 660.000 indivíduos e mais de 24.000 empresas participaram de seus programas. O melhor: toda essa iniciativa não se resumiu apenas à Singapura, mas países como Itália, Espanha e Índia estão lançando iniciativas de qualificação semelhantes.
Empresas e a Mudança de Mentalidade
Além do curso e do governo, há também a vertente empresarial que auxilia nessa mudança de mentalidade do ceticismo para o otimismo. Um dos maiores exemplos é a Ikea, que lançou em 2021 um bot de IA chamado Billy para gerenciar a maioria das consultas rotineiras dos clientes.
Em vez de demitir os funcionários do call center, ela requalificou mais de 8.500 pessoas para se tornarem consultores de design de interiores, oferecendo novos serviços de design personalizados aos seus clientes, gerando um aumento nas vendas de mais de 1,4 bilhão de dólares apenas em 2022.
Sagar Goel retifica que esse investimento deve partir de todos: pessoas físicas, empresas e governos. Abraçar a requalificação é o primeiro passo para gerar inovação, disruptivas ou não, entendendo que tudo é uma questão de aprendizado contínuo, e de continuar vendo as mudanças sob uma perspectiva positiva.
