O vídeo de Joi Ito para o TED Talks é antigo, mas seus aprendizados e insights são validos até hoje. É por isso que, 10 anos depois de seu lançamento, trago de novo para a pauta um termo que poderia ter sido inventado ontem: agorista. Vamos falar sobre inovação global?
Durante uma visita ao Laboratório de Mídia do MIT em Cambridge em 2011, a vida de Ito mudou repentinamente. Um terremoto de magnitude 9 atingiu a costa pacífica do Japão, onde sua esposa e família estavam. O pânico tomou conta quando as notícias sobre explosões em reatores nucleares e a nuvem radioativa se aproximando de sua casa começaram a surgir.
As autoridades não forneciam as informações que ele precisava. Desesperado, recorreu à Internet, onde encontrou muitas pessoas na mesma situação. Juntos, formaram o Safecast (que, pasme, ainda existe), com o objetivo de medir a radiação e compartilhar esses dados, visto que o governo não o faria, criando uma vasta base de dados aberta.
A Revolução da Internet e a Inovação
A Internet revolucionou a inovação. Antes, o processo era caro e centralizado, com empresas gastando milhões em hardware, redes e software. Já em 2014, a Internet tinha barateado drasticamente os custos de inovação e colaboração. A Lei de Moore reduziu o custo de testar novas ideias a quase zero, permitindo que estudantes e startups inovassem sem a necessidade de grandes investimentos.
No Laboratório de Mídia do MIT, o grupo acreditava no lema “Entregue ou morra”, ou seja, a inovação deve ser levada ao mundo real para ter validade. Os estudantes foram a Shenzhen, onde testemunharam inovadores locais testando e iterando em equipamentos de manufatura como se fosse desenvolvimento ágil de software.
Adendo: a Lei de Moore e seu fim
A Lei de Moore impulsionou o avanço exponencial da tecnologia, desempenhando um papel importante ao aumentar o acesso à informação e melhorar a conectividade global. Moore previu que o número de transístores (também chamado de “poder computacional”) em um circuito integrado dobraria anualmente.
Mas, de acordo com Carl Anderson, pesquisador de concepção de computadores na IBM, a Lei de Moore chegou ao seu fim. Engenheiros agora criam sistemas que demandam menos dos processadores. Em outras palavras, estão tornando os processadores “mais inteligentes” ao invés de simplesmente “mais potentes”.
E não é só isso. Os custos de pesquisa para desenvolver novos processadores estão subindo: imagine gastar milhões e criar uma versão marginalmente mais rápida de algo que já é eficiente. Não parece um bom negócio, certo? Empresas privadas perceberam isso também.
Outro ponto crítico é o impacto ambiental. Com o aumento da velocidade e poder dos processadores, o consumo de energia e a dissipação de calor também aumentam. E, vamos ser honestos, em um mundo cada vez mais consciente ambientalmente, isso é um grande ponto negativo.
Portanto, parece que a era dos super processadores pode estar chegando ao fim – o que não significa que a inovação está estagnando. Pelo contrário, estamos vendo uma transformação onde a eficiência e a inteligência tecnológica estão tomando a frente. O futuro, ao nosso ver, promete ser ainda mais fascinante.
Conexão e aprendizado contínuo
Tudo isso para explicar que a experiência com o Safecast o ensinou uma lição que é válida até hoje – e que acreditamos que sempre será. Segundo ele, é preciso termos “bússolas ao invés de mapas”.
Em um mundo ainda mais complexo como o de hoje, a simplicidade está naquilo que está intrínseco ao lifelong learning (ou aprendizado contínuo, no bom e velho português): na conexão, no aprendizado e na presença total. Se em 2014 já não éramos futuristas, agora mais que nunca somos “agoristas”.
A educação é o que as pessoas fazem com você, e o aprendizado é o que você faz por si mesmo.
Quatro pilares do lifelong learning
Surgido na década de 70, ganhou destaque nos anos 90 como um conceito de educação que vai além das instituições e seus limites. Seu maior trunfo talvez seja apagar qualquer barreira etária ou social, estimulando o desenvolvimento pessoal e especialmente profissional de forma totalmente voluntária.
Em um mercado de trabalho ainda mais competitivo, ter apenas um currículo precioso e uma faculdade de nome não basta para ser escolhido para determinados cargos. Surge, então, o conceito dos quatro pilares da educação, uma base para fomentar o aprendizado contínuo ao longo do tempo. Vamos conhecer mais sobre eles?
Aprender a conhecer
Encontrar a melhor forma de compreender, construir e reconstruir o conhecimento é uma necessidade. Entenda: aprender não é apenas acumular informações; é desenvolver um senso crítico afiado, a capacidade de reflexão e um posicionamento claro diante de conflitos.
Para isso, é fundamental que a curiosidade seja instigada e a atenção, constantemente capturada. Precisamos cultivar a autonomia para dominar diferentes linguagens e, assim, não apenas repetir pensamentos alheios, mas aprender a pensar por nós mesmos.
Aprender a fazer
Executar uma função não diferencia um colaborador do outro; é preciso ir além. Desenvolver habilidades sociais e emocionais são um bom primeiro passo para se destacar. Em tempos de home office (ou híbrido), trabalhar em equipe é mais diferencial que nunca, relevando a capacidade de adaptação.
Aprender a conviver
Não existe isso de “trabalho é trabalho” sem conexões interpessoais. Afinal, entender o próximo e criar conexões sociais são essenciais para a gestão de conflitos e o trabalho em equipe. A cooperação e a união de conhecimentos individuais são vitais para o aprendizado contínuo e para um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
Aprender a ser
Você vê como cada experiência pode ser uma oportunidade de crescimento pessoal? A forma como você aprende e se desenvolve com cada desafio define quem você é. Autonomia, discernimento e responsabilidade são fundamentais para a sua evolução. O processo de aprendizagem deve explorar e expandir suas potencialidades, como sensibilidade, memória, lógica, ética, criatividade, iniciativa e comunicação.
Em um mundo em constante transformação, os ensinamentos de Joi Ito permanecem tão relevantes quanto há uma década. Sua experiência exemplifica a importância de sermos “agoristas” – aqueles que atuam no presente, aproveitando as tecnologias disponíveis para inovar e resolver problemas em tempo real.
À medida que a Lei de Moore perde seu fôlego, a eficiência e a inteligência se tornam as novas fronteiras da tecnologia. Não precisamos de processadores mais poderosos, mas sim de sistemas mais inteligentes que otimizem os recursos disponíveis. Isso reflete uma mudança de paradigma que valoriza a sustentabilidade e a criatividade.
O conceito de lifelong learning se encaixa perfeitamente nesse contexto. Em um mercado de trabalho competitivo e em rápida evolução, o aprendizado contínuo se torna indispensável. Os quatro pilares do aprendizado contínuo oferecem um caminho claro para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Eles nos ensinam a cultivar a curiosidade, a desenvolver habilidades práticas e emocionais, a construir relações interpessoais sólidas e a explorar nossas potencialidades.
A revolução digital nos mostrou que a inovação não vem apenas das grandes corporações, mas também das conexões e colaborações entre indivíduos comprometidos com o aprendizado e a ação.
O futuro nos convida a sermos mais que futuristas; nos desafia a sermos agoristas, a viver e a aprender no presente, adaptando-nos às mudanças e aproveitando as oportunidades que surgem a cada instante. Afinal, a educação é um processo contínuo, e o aprendizado, uma jornada pessoal que nos prepara para os desafios e as maravilhas do futuro.